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Eq.temp_2010 é um momento de pausa, uma paragem no percurso individual das fotografias de cada um, um modo de recuar e criar alguma distância sobre o que andamos a fotografar. A distância apela à visão e ao entendimento, ajuda a ver com mais clareza. Este é um conjunto improvável de fotografias; nada as relaciona para além delas próprias. A fotografia é um caminho que se percorre e cada caminho percorrido abre sempre novos caminhos a percorrer.



Foi pedido a cada um que olhasse para o que andou a fotografar ao longo do último ano e escolhesse 4 fotografias que, de um modo ou de outro, condensassem o seu percurso recente, as suas preocupações e teimosias e o que é apresentado é o resultado dessa escolha.  Eq.temp_2010 é também um encontro, o de cada um com as suas fotografias, um momento em que interrogamos e somos interrogados pela presença daquele objecto que temos à nossa frente. De que modo uma fotografia significa para nós, o que traz cada uma delas, o que nelas reconhecemos e projectamos ao ponto de as destacar de um conjunto de imagens mais vasto e de as podermos apresentar assim, desligadas de qualquer relação contextual? A resposta não é simples nem linear. Cada uma transporta sentido consoante as obsessões de cada um, autor e espectador.



Falam-nos da passagem do tempo, desde logo na duração da exposição mas presente na erosão das superfícies, na degradação do espaço, no modo como ele flui na ordem das coisas e igualmente da erosão do próprio tempo, do esgotamento da linearidade e do fim do tempo. Convocam a viagem, e o modo como ela transforma em imagem o movimento da experiência do atravessamento do espaço através da deslocação do corpo e do olhar, do encontro do particular ou do reconhecimento do já visto. Ajudam na fixação da memória mas também na sua construção já que à semelhança da memória, as fotografias são feitas de camadas e cada uma acrescenta sentido a outra reconstruindo-se mútua e continuamente.



Algumas também surgem como revisitação e muitas vezes como um segundo retorno aos sítios onde passamos, primeiro na realidade depois na imagem. Estamos sempre a regressar a determinados lugares, ainda que em espaços diferentes, e obsessivamente repetimos os mesmos gestos, às vezes à espera de confirmar as nossas certezas ou dissipar as nossas dúvidas, outras apenas de entender a diferença. De entre estes lugares, a paisagem é um dos que maior tradição carrega e já muito dificilmente a olhamos sem transportar essa tradição no olhar. Contudo, a singularidade encontrada acaba sempre por se impor face à banalidade aparente da ordem do mundo.



Olhando à volta e percorrendo uma a uma as fotografias deste conjunto, tudo nelas nos remete para o movimento inicial da representação do espaço, ordenado pela regularidade da luz, pelos seus padrões de repetição ou de ausência, na duração de um intervalo de tempo,  dois vectores essenciais na ideia de fotografia. Talvez este seja um dos pontos nodais neste conjunto: a mera constatação de que todas as fotografias trazem consigo uma ideia particular acerca da fotografia, do modo como cada um se relaciona com ela e como ela medeia a nossa relação com o mundo.
Por vezes, a fotografia é um lugar estranho.
francisco feio, novembro de 2010

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